|   Jornal da Ordem Edição 4.265 - Editado em Porto Alegre em 27.03.2024 pela Comunicação Social da OAB/RS
|   Art. 133 - O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. Constituição Federal, 1988
NOTÍCIA

03.05.07  |  Magistratura   

Os antecedentes do caso que afastou o desembargador do TRF-4

* Sete juízes federais do Paraná referiram, em depoimentos à Procuradoria da República em Curitiba (PR), que o desembargador federal Dirceu de Almeida Soares intercedeu por advogados e clientes destes, pressionando pela concessão de decisões favoráveis.

* O  desembargador teria chegado a entregar uma sentença já redigida à juíza federal Ana Beatriz Palumbo, da Vara Federal de Paranaguá (PR), determinando a não-cobrança de imposto sobre serviços (ISS) dos escritórios de Advocacia de Curitiba, pedindo-lhe que apenas assinasse a decisão.
 
* Os autos do expediente que tramitou na Procuradoria da República do Paraná citam, pelo menos, quatro advogados, entre eles Roberto Bertholdo, ex-conselheiro de Itaipu, que tinha como clientes os deputados José Janene e José Borba, ambos do Paraná.

* Nos sete depoimentos, os juízes relatam situações em que se sentiram “pressionados” e “constrangidos” pelo desembargador Dirceu de Almeida Soares. Um dos magistrados refere que "Soares lhes pede para atender a advogados muito amigos, insistindo que os juízes lhes digam que o desembargador havia falado com eles previamente sobre seus casos".

* O juiz Ricardo Rachid de Oliveira, da 2ª Vara Cível Federal de Curitiba, contou que recebeu um recado do desembargador para que “não decidisse um determinado processo sem falar com ele”. Depois, o desembargador ligou, pedindo-lhe para receber um advogado: “é muito amigo meu, atenda”.

* À juíza Vera Lúcia Ponciano, o desembargador teria tido o cuidado de recordar que, se o advogado Bertholdo lhe perguntasse se ele já havia falado com ela, “era para dizer que sim”.

* O cliente de Bertholdo - no caso - era Ricardo Sabóia Khury, ex-diretor do Banestado. Na época já havia uma decisão da Justiça Federal do Paraná de quebrar o sigilo bancário de Khury. Ele era acusado de participação em crimes com empresa fantasma e de movimentar em sua conta 49 vezes mais que sua renda declarada em 1998, e 28 vezes mais, em 2000. Isso ocorreu em março de 2003, durante as investigações do caso Banestado, usado por doleiros para enviar dinheiro para o exterior com contas laranjas e a conivência de diretores de bancos.

* O desembargador questionou a juíza Ana Carine sobre por que havia indeferido liminar pedida por “um grande amigo seu”, o advogado Roberto Morel, cuja cliente, a empresa Ginap, queria redução de imposto de importação de pneus. Dias depois, o advogado entrou com pedido de reconsideração da decisão. A juíza contou que “se sentiu extremamente pressionada”.

* Ponto em comum nos depoimentos é que os juízes afirmam não terem cedido às supostas pressões do desembargador. Diante da recusa do juiz Nivaldo Brunoni, para que “amolecesse a mão” e reconsiderasse um pedido de liminar para liberar roupas fabricadas na China com etiquetas falsas do Brasil, apreendidas pela Receita, o magistrado Soares - na época diretor do foro da Justiça Federal em Curitiba, teria sido irônico, segundo o relato: “olha, no que precisar da gente na direção do foro, estamos às ordens”.

* Na época em que os primeiros fatos vieram a público, em 2005, o desembargador Dirceu de Almeida Soares - ouvido pelo jornal O Estado de S. Paulo  - disse que “pedidos de preferência são normais entre juízes”. E explicou que “nós, desembargadores, recebemos muitos pedidos e de vez em quando telefonamos, quando vemos que a coisa é difícil, tem que ser resolvida, pelo bem da própria Justiça”.

CONTRAPONTO

O Espaço Vital não conseguiu contato telefônico com o magistrado Almeida Soares, em seu gabinete no TRF-4.

Rodney Silva
Jornalista - MTB 14.759

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