Veja revela que presidente do Senado recebe dinheiro da Construtora Mendes Junior


28.05.07 | Imprensa

O saite online da revista Veja (www.veja.com.br) resume a matéria que está nas páginas da revista desta semana, sobre as relações obscuras do presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, com a Construtora Mendes Junior:

As denúncias de corrupção contra o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) publicadas por Veja em sua reportagem de capa desta semana criaram tensão entre membros do Congresso nesta sexta-feira. Surpreendidos pelas evidências de que Renan teve despesas pessoais e de campanha financiadas pela empreiteira Gautama, pivô dos escândalos revelados pela operação Navalha da Polícia Federal, e pela construtora Mendes Júnior, parlamentares reagiram com cautela.

Evitaram acusar diretamente o senador, mas não se opuseram à reportagem que chegou às bancas nesta sexta. Renan Calheiros não foi ao Senado durante o dia. O presidente da Casa esteve no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em uma audiência com sua ex-mulher Mônica Veloso, discutindo detalhes da pensão que paga a ela. Renan e Mônica têm uma filha de 3 anos.

Veja apurou que esta pensão é financiada com dinheiro do lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo. Ao deixar o tribunal, Renan recusou-se a falar com a imprensa.

A Construtora Mendes Júnior divulgou uma nota na qual nega responsabilidade sobre eventuais pagamentos para o senador. De acordo com o texto da empresa, os pagamentos "nunca existiram". A Mendes Júnior participa de outras obras do governo federal, como a construção do aeroporto de Vitória e a construção de tubulações e manutenção industrial para a Petrobras.

Ainda na nota, a construtora afirma que seus contratos com o governo "são resultantes de concorrências, e que estão disponíveis de maneira ampla a qualquer inquirição concreta".

Repercussão - O ministro da Justiça, Tarso Genro, evitou comentar as denúncias. "Não faço nenhum comentário sobre o presidente do Senado. A minha relação com ele deve ser caracterizada como uma relação entre os poderes Executivo e Legislativo" limitou-se a dizer, após participar de almoço e reunião do Instituto dos Advogados de São Paulo. 

O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) afirmou que ainda não tinha lido a reportagem, mas que uma situação dessas "não é agradável" para ninguém.

Para o senador Jefferson Peres (PDT-AM), Renan terá de ser convincente em suas explicações a fim de evitar um processo no Conselho de Ética ou mesmo a convocação pela CPI da Navalha, que pode vir a ser instalada na próxima semana. "Ninguém está livre de ser investigado diante de uma acusação concreta. Nem mesmo o presidente do Senado", afirmou Peres, ao lembrar que foi assim com o ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que acabou renunciando à presidência do Senado e ao mandato para escapar da cassação por conta de denúncias de corrupção.

No final da tarde de sexta-feira, Renan Calheiros divulgou nota em que nega ter recebido "qualquer recurso ilícito ou clandestino de qualquer empresa ou empresário", e afirma que "as doações efetuadas para suas campanhas eleitorais foram efetivadas em absoluta conformidade com a lei".

O senador disse considerar a polêmica causada pelas denúncias de Veja "uma turbulência circunscrita à (sua) mais íntima privacidade".

O que a revista divulgou

A matéria da revista Veja, assinada pelo jornalista Policarpo Junior, tem - dentre outros - o seguinte texto:

"O senador e o lobista - Renan Calheiros terá de explicar por que diretor de construtora pagava suas contas - Desde que a Operação Navalha foi deflagrada, o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, tem sido instado a explicar suas relações com o empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama. O senador tem dito que são apenas conhecidos, mas são mais do que isso.

Em 1990, o empreiteiro bancou sorrateiramente a campanha do senador ao governo de Alagoas e, embora tenha terminado em derrota, a eleição serviu como marco de uma amizade sólida. Sólida mesmo, a ponto de o empreiteiro freqüentar a residência oficial do presidente do Senado. A situação de Renan Calheiros, porém, é mais complicada do que sua intimidade com Zuleido Veras. É que o senador tem outro amigo explosivo no submundo da empreita que, tal como Zuleido, freqüenta sua casa e, tal como Zuleido, é seu dileto amigo.

O amigo de alta octanagem é Cláudio Gontijo, lobista da Construtora Mendes Júnior, uma das maiores do país. Nos últimos anos, Gontijo, mais do que um amigo, tem se apresentado no papel de mantenedor do senador.

Veja apurou os laços financeiros entre os dois:

• O lobista da Mendes Júnior coloca à disposição do senador um flat num dos melhores hotéis de Brasília, o Blue Tree. O flat, número 2.018, é usado para compromissos que exijam discrição. Está em nome de Cláudio Gontijo;

• O lobista da Mendes Júnior pagou, até março passado, o aluguel de um apartamento em Brasília para o senador. O imóvel tem quatro quartos e fica em uma área nobre da capital federal. O aluguel saía por 4.500 reais;

• O lobista pagava 12.000 reais mensais de pensão para uma filha do senador, de 3 anos de idade. A pensão foi bancada por Cláudio Gontijo de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado;

• O lobista ajuda nas campanhas do senador Renan Calheiros e nas de sua família. Já ajudou o próprio senador, seu filho e seu irmão. Tal como Zuleido, Gontijo opera nas sombras. Oficialmente, ele é assessor da Diretoria de Desenvolvimento da Área de Tecnologia da Mendes Júnior há 15 anos. Na realidade, sua função é defender os interesses da empresa junto ao governo.

A Mendes Júnior constrói aeroportos, metrôs, linhas de transmissão de energia e estradas. Tem fortes interesses no governo. Hoje, participa, entre outras obras, de um consórcio responsável pela construção do aeroporto de Vitória e fechou vários contratos com a Petrobras para a construção de tubulações e manutenção industrial. Tal como a Gautama, a Mendes Júnior também orbita no Ministério de Minas e Energia, do qual foi demitido o ministro Silas Rondeau. Foi a partir desse ministério que Gontijo estendeu sua área de influência a outros setores do governo nos últimos anos. Com a ajuda de Renan, chegou a indicar nomes para cargos públicos, como o do engenheiro Aloísio Vasconcelos Novais, que assumiu a Eletrobrás quando Rondeau deixou o cargo para ser ministro de Minas e Energia. O senador Renan Calheiros caiu nas graças do lobista.

Nos últimos três anos, a pedido de Renan, o lobista pagou os 4.500 reais de aluguel do apartamento de quatro quartos. No imóvel, até recentemente, morava a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha de 3 anos, que recebe a pensão do lobista. Todos os meses, a jornalista ia ao escritório da Mendes Júnior, onde pegava um envelope branco, timbrado, com o endereço, os telefones e o nome de Cláudio Gontijo. O envelope era identificado com suas iniciais – MV. Dentro havia sempre 16.500 reais. Era o aluguel mais a pensão de 12.000 reais para a criança.

Veja teve acesso ao contrato de locação do imóvel. Nele, Gontijo assina como fiador. Seguindo orientação do senador, o lobista contratou uma empresa de vigilância para garantir a segurança de Mônica Veloso e sua filha.

A direção da Mendes Júnior diz que isso tudo é "questão pessoal" de Gontijo e que desconhece esses pagamentos. Procurada por Veja, Mônica Veloso preferiu não se manifestar.

Cláudio Gontijo também cedia ao senador um flat no hotel Blue Tree, em Brasília. A Veja, ele confirmou que conhece Renan Calheiros. ´Ele é meu amigo, nada mais.´"


Leia a matéria da Revista Veja na íntegra, na origem.